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Notícias

Pronunciamento conjunto com o ministro das Relações Exteriores Antônio Patriota, após reunião

Pronunciamento
Hillary Rodham Clinton
Secretária de Estado
Salão de Tratados
Washington, DC
23 de fevereiro de 2011

SECRETÁRIA HILLARY CLINTON:

Boa tarde a todos. Tenho o prazer de dar as boas-vindas a um amigo e colega, e uma pessoa muito conhecida aqui em Washington, de volta ao Departamento de Estado em sua nova função como ministro das Relações Exteriores. Antônio, é sempre um prazer vê-lo, e agradeço sua presença, pois assim pudemos conversar sobre vários assuntos e, em especial, preparar a futura visita do presidente Obama ao Brasil.

Tive o privilégio de assistir à posse da presidente Dilma Rousseff, e o maravilhoso potencial de todos os trabalhos que estamos fazendo juntos apresenta grande possibilidade de ampliar e aprofundar nossa parceria já bastante forte. Esta será a primeira visita presidencial do presidente Obama à América do Sul. Essa visita ocorre em um momento de estreita colaboração, e nosso trabalho bilateral em questões e desafios globais, inclusive segurança alimentar, direitos humanos, energia limpa e desigualdade global, é essencial para ambos os países. E exploraremos até mesmo novos modos de buscar nossos interesses e valores em comum. Tanto o Brasil quanto os Estados Unidos querem promover governo aberto e responsável, direitos civis, uma sociedade civil vibrante e inclusão social.

E a presidente Dilma Rousseff deu ênfase específica na eliminação da pobreza e no avanço do papel das mulheres, algo que tenho especial prazer em endossar. E as duas coisas estão ligadas, porque mulheres com poder de decisão tendem a ser mulheres empreendedoras que tiram a família e até seu bairro e sua comunidade da pobreza.

Estou muito satisfeita também com o lançamento no ano passado do Diálogo de Parceria Global por nossos países, com a finalidade de fazer avançar o intercâmbio em questões econômicas, sociais e de segurança. No ano passado, nossos ministros de Energia concluíram um plano de trabalho para energia que nos ajudará a colaborar no avanço de tecnologias sustentáveis como energia hídrica, redes inteligentes e moradias com eficiência energética. Demos início a um acordo de céus abertos que aumentará o número de voos entre os Estados Unidos e o Brasil e tornará os preços mais competitivos, bem como assinamos um acordo de cooperação em defesa que nos ajudará a trabalhar em conjunto para enfrentar os desafios de segurança que enfrentamos. Também fiquei satisfeita por termos assinado um memorando de entendimento que nos ajudará, em conjunto, a promover o desenvolvimento internacional.

O Brasil tem tanto a contribuir no que se refere a desenvolvimento global, e eu muitas vezes aponto o Brasil como modelo. E estou encantada porque o ministro das Relações Exteriores recentemente presidiu o Conselho de Segurança sobre Segurança e Desenvolvimento. O Brasil é pioneiro em respostas inovadoras e locais ao HIV/Aids. Depois do trágico terremoto no Haiti, o Brasil se tornou um dos dez principais doadores para o Haiti. Esse país comandou e continua a comandar a Missão de Estabilização da ONU que deu segurança ao povo do Haiti. E trabalhamos em estreita colaboração para garantir que as próximas eleições no Haiti ocorram sem problemas.

Assim, o Brasil tem enorme credibilidade quando se trata de desenvolvimento, e os Estados Unidos apoiam as ações do Brasil para estabelecer contato com outros países no mundo todo. De fato, o ministro das Relações Exteriores me disse que o Brasil abriu 50 novas embaixadas nos últimos anos. E estamos ansiosos para trabalhar com o Brasil, particularmente na África Subsaariana.

Portanto, é um momento emocionante para o Brasil e para as nossas relações. O mundo todo está na expectativa do desempenho do Brasil ao sediar a Copa do Mundo em 2014 e as Olimpíadas de Verão em 2016. Estamos especialmente contentes com a visita do presidente Obama ao Brasil e teremos a oportunidade de falar diretamente com o povo brasileiro sobre a cooperação, parceria e amizade que existe, não somente entre nossos líderes, mas entre nossos povos.

Obrigada.

MINISTRO DAS RELAÇÕES EXTERIORES ANTÔNIO PATRIOTA:

Agradeço muito à secretária de Estado, Hillary Clinton. Em primeiro lugar devo dizer que ficamos muitos satisfeitos com a sua presença na posse da presidente Dilma Rousseff, que me encarregou de lhe transmitir seus cordiais cumprimentos. É com prazer que participo em Washington de dois dias de discussões não somente aqui no Departamento de Estado, mas também em reunião com o assessor de Segurança Nacional Thomas Donilon. Terei uma reunião com Timothy Geithner, secretário do Tesouro, entre outros. E, é claro que aguardamos ansiosamente a visita do presidente Obama ao Brasil em 19 de março.

 

 

A senhora mencionou muitas das recentes realizações nas relações EUA-Brasil, uma relação bastante sólida, uma relação que cresceu no decorrer do tempo em inúmeras áreas, inclusive mediante comércio, investimentos e contatos entre nossas sociedades civis. Estabelecemos novas parcerias que lidam com questões como o combate à discriminação racial, a promoção da igualdade de gêneros e tivemos a satisfação de receber recentemente a embaixadora Melanne Verveer, encarregada desses assuntos.

Portanto, nossa intenção é dar continuidade a esses alicerces sólidos e analisar algumas novas áreas estratégicas para cooperação. E, em especial, tivemos uma conversa muito útil sobre ciência e tecnologia, sobre como melhorar nossa cooperação nessa área, bem como sobre inovações e a busca de oportunidades comerciais. E ficamos satisfeitos com o fato de o Fórum de Altos Executivos de Empresas realizar sua reunião paralelamente à visita presidencial, que ocorrerá em breve.

Naturalmente, o diálogo político com os principais atores é cada vez mais importante para o Brasil no mundo cada vez mais multipolar de hoje. Ficamos muito felizes com o apoio dos EUA à nossa iniciativa de realizar um debate no Conselho de Segurança sobre a interligação entre paz, segurança e desenvolvimento. De fato, acreditamos que isso seja fundamental na tentativa de enfrentar alguns dos desafios, como este no qual estamos trabalhando, acredito, com muita cooperação, para melhorar o Haiti.

Estou na expectativa do Diálogo de Parceria Global que criamos. Talvez possamos marcar uma reunião ainda durante o primeiro semestre para obter uma visão ampla dos diferentes mecanismos que estão em funcionamento e em constante desenvolvimento por meio de novas parcerias, inclusive em áreas estratégicas.

SECRETÁRIA HILLARY CLINTON:

Obrigada.

SECRETÁRIO CROWLEY:

Rosalind Jordan da Al Jazeera inglesa

PERGUNTA:

Senhora secretária, sr. ministro das Relações Exteriores, obrigada. Primeiro, uma pergunta bem concisa para o ministro de Relações Exteriores: Onde está a unidade do Cone Sul com relação à Líbia? Alguns países disseram não estar satisfeitos com o que está acontecendo na Líbia. Outros, inclusive Daniel Ortega, da Nicarágua, indicaram que Muamar Kadafi deveria continuar no poder.

 

 

E, senhora secretária, líbios comuns têm se comunicado com seus amigos, parentes e com a mídia internacional, e disseram que estão em estado de terror. Estão horrorizados. Eles temem pela vida. Centenas de pessoas já morreram. E eles se perguntam, onde estão os Estados Unidos neste momento? Eles se sentem abandonados, é isso – é isso que eles nos dizem. Há sanções em cogitação, um encaminhamento ao TPI por violações aos direitos humanos? E sobre o comércio? Que tal colocar a Líbia de volta na lista de países patrocinadores do terrorismo? Onde estão os Estados Unidos, e o que Washington espera para agir? Obrigada.

MINISTRO DAS RELAÇÕES EXTERIORES PATRIOTA:

Talvez eu possa fazer alguns comentários aqui. Em primeiro lugar, o Brasil está muito preocupado com a situação na Líbia. Temos várias pessoas trabalhando lá em empresas envolvidas em vários projetos de infraestrutura, inclusive a ampliação do aeroporto em Trípoli. E, neste momento, sem fornecer nenhum detalhe, estou muito confiante de que nossos esforços para fornecer um meio de deixar o país para aqueles que quiserem partir serão bem-sucedidos. É o que sinceramente esperamos.

 

 

Devo dizer que um ponto positivo em meio a uma situação muito complexa e problemática é que até agora não vimos violência contra estrangeiros na Líbia. Dito isso, nós, é claro, somos a favor de levar o problema ao Conselho de Segurança. Ontem, foi divulgado um comunicado à imprensa. E, como sabem, o Brasil está na presidência do Conselho de Segurança durante o mês de fevereiro. Nós também nos associamos a uma iniciativa para marcar uma reunião com o Conselho de Direitos Humanos para discutir a situação na Líbia. E, diferentemente do que ocorreu no Egito e na Tunísia, o que para nós é um forte elemento de preocupação é o uso da força contra manifestantes desarmados.

Fora isso, vemos as manifestações no norte da África e no mundo árabe como um movimento que só pode incentivar a solidariedade do povo brasileiro, visto que é um movimento pela melhor governança, por mais participação na tomada de decisões, mais oportunidades de emprego e visão de um futuro melhor para a juventude desses países. E gostaríamos de ver, de todas as maneiras possíveis, como podemos apoiar os esforços em prol desses objetivos.

SECRETÁRIA HILLARY CLINTON:

Primeiro, quero dizer que acredito que os Estados Unidos, a começar com o que o presidente disse na sexta-feira, e que reiterei ontem, deixaram absolutamente claro que condenamos fortemente a violência na Líbia, que pedimos o fim da violência contra manifestantes e os que buscam os direitos inerentes a todas as pessoas, em todos os lugares. E lamentamos profundamente a perda de vidas que já ocorreu.

 

 

Nós nos juntamos à comunidade internacional para falar em uníssono, porque, conforme está implícito na sua pergunta, primeiro temos de unir a comunidade internacional, porque para mim não há dúvida de que o momento de a comunidade internacional agir em conjunto é agora.

E para isso, apoiamos ontem uma contundente declaração do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Estamos conversando constantemente. O ministro das Relações Exteriores e eu falamos longamente sobre isso durante nossa reunião, porque estamos nos unindo ao resto do mundo ao mandar uma clara mensagem ao governo líbio de que a violência é inaceitável e que o governo líbio será responsabilizado pelas ações que está empreendendo.

A forma de prosseguirmos no Conselho de Segurança e no Conselho de Direitos Humanos é apresentar as melhores abordagens que acreditamos possam ajudar o povo da Líbia. E, lembrem-se, que esse deve ser o nosso objetivo; que neste momento a situação é fluída, é incerta, é difícil entender claramente tudo o que está acontecendo por todo o país. Então, estamos trabalhando em estreita colaboração com os nossos parceiros. Há muitos países que mantêm relações muito mais estreitas com a Líbia do que nós. Como sabem, nós não temos esse relacionamento já há muitos anos e não temos o tipo de influência que outros países podem exercer agora. Mas tudo será posto na mesa. Analisaremos todas as opções possíveis para tentar por um fim à violência e tentar influenciar o governo.

Mas, como eu disse ontem, obviamente, e como vocês ouviram do ministro das Relações Exteriores, em qualquer situação nossa principal preocupação tem de ser com a proteção e a segurança dos nossos próprios cidadãos, assim como a preocupação do ministro das Relações Exteriores tem de ser com a proteção e a segurança dos cidadãos brasileiros. E estamos incentivando os americanos a sair da Líbia. Providenciamos hoje um navio fretado para retirar não só os americanos que consigam chegar ao cais, mas cidadãos de todos os outros países a quem também oferecemos ajuda para sair da Líbia. Conclamamos os americanos a partir imediatamente. Se precisarem de ajuda, devem contatar a Embaixada ou acessar o site do Bureau de Assuntos Consulares para informações. Portanto, estamos trabalhando em várias frentes simultaneamente.

Moderador:

(Inaudível) São Paulo.

PERGUNTA:

Obrigado. A pergunta é para a secretária Hillary Clinton, mas gostaríamos também que o ministro Patriota comentasse em seguida. O governo americano vê alguma mudança na posição do governo brasileiro com relação ao Irã? E os EUA – o Brasil terá apoio dos EUA para um assento permanente no Conselho de Segurança, como teve a Índia?

SECRETÁRIA HILLARY CLINTON:

Bem, primeiro, com relação ao Irã, estamos conversando constantemente com nossos amigos brasileiros porque compartilhamos a opinião de que o Irã não deve se tornar um Estado com armas nucleares. E o Brasil tem sido muito ativo em sua diplomacia e também trabalhou para aplicar as sanções internacionais que foram adotadas pelo Conselho de Segurança. Portanto, em nossa opinião, todos estão procurando maneiras de influenciar o comportamento do governo iraniano. E acreditamos firmemente que as sanções estão dando resultado, que elas estão tendo impacto no Irã, e continuaremos a trabalhar com parceiros do mundo todo para a aplicação dessas sanções.

 

 

Estamos também buscando ação na próxima sessão do Conselho de Direitos Humanos para mais uma vez denunciar os abusos aos direitos humanos no Irã. Ou seja, tem sido o máximo da ironia e mesmo uma hipocrisia ver o Irã aplaudir as manifestações pacíficas no Egito ou na Tunísia enquanto eles reprimem brutalmente as manifestações pacíficas no Irã. Portanto, penso que estamos todos tentando muitas coisas em um esforço comum da comunidade internacional para influenciar as ações do governo iraniano com relação ao programa nuclear.

No que diz respeito à posição do Brasil nas Nações Unidas e em outros órgãos, como eu disse ao ministro das Relações Exteriores, nós admiramos muito a crescente liderança global do Brasil e sua intenção de se tornar membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Estamos ansiosos por um diálogo construtivo com o Brasil sobre essa questão durante a viagem do presidente Obama e depois disso. Acreditamos que há muitas, muitas áreas de liderança multilateral para as quais o Brasil se apresentará, e queremos apoiar esses esforços.

Muito obrigada a todos.

ministro das Relações Exteriores PATRIOTA:

Obrigado.

 

 

(Fora do microfone.)

SECRETÁRIA HILLARY CLINTON:

Eu jamais deixaria um homem tão bonito como você, se não fosse porque – (risos) – preciso me reunir com o presidente imediatamente para conversar sobre a Líbia e outros assuntos, portanto, vou ter de te deixar.

MINISTRO DAS RELAÇÕES EXTERIORES PATRIOTA:

Muito obrigado. E vou me despedir ao estilo brasileiro. (Risos.)

SECRETÁRIA HILLARY CLINTON:

Muitíssimo obrigada.

MINISTRO DAS RELAÇÕES EXTERIORES PATRIOTA:

Muito obrigado. (Via intérprete.) Bem, quero responder à pergunta rapidamente. (Em português.)

 

 

(Via intérprete.) Todos sabem que o Brasil – quais são as intenções e as metas do Brasil. Por meio de diálogo e diplomacia queremos ajudar a resolver problemas que podem ser desestabilizadores para a paz mundial, sejam eles problemas que são tratados no Conselho de Segurança, sejam os que são tratados fora do Conselho de Segurança. É claro que as aspirações nucleares do Irã constituem um desses problemas, e o Brasil quer contribuir e ser um dos países que ajude a resolver esse problema e também a reduzir a desconfiança existente entre o Irã e os países que fazem parte do Conselho de Segurança, entre outros. Esse é o pensamento que orienta nossas ações.

Creio que os Estados Unidos entendem a nossa posição. Conversamos muito sobre o Irã; conversamos sobre o mundo árabe em geral, e acho que há uma certa convergência ou ideia, ideias sobre o que gostaríamos que acontecesse na região. Ou seja, todas as manifestações que estão ocorrendo agora na região – quero dizer, é uma crise, mas essa crise também abre as portas para as oportunidades.

Para responder à pergunta sobre o Conselho de Segurança e a participação do Brasil, acho que a secretária de Estado deu uma resposta muito positiva para a pergunta, o que nós gostaríamos de ver é os EUA fazendo parte de uma reforma profunda do Conselho de Segurança que culminasse no aumento do número de membros permanentes desse órgão, principalmente de membros que fazem parte do mundo em desenvolvimento. E, penso que, em razão de todas as contribuições que o Brasil deu ao Conselho de Segurança, o Brasil está em boa posição com relação a isso.

Obrigado.

 

 

Vídeo (em inglês)