Reconhecimentos

Reconhecimentos. Uns mais amargos, outros melhor assumidos…

Cumpriu-se o défice?

Ora bem, se aos valores aqui apresentados para o sector Público Administrativo retirarmos:

  • A “receita contingente” de 800 milhões relativa à concessão da ANA, que ainda terá de ser validada pelo Eurostat;
  • Receitas de 2,9 bi cobradas em 2012 mas que já haviam sido registadas em 2011 e respeitantes, na sua quase totalidade, à transferência dos fundos de pensões da banca;
  • O pagamento de dívidas do SNS no valor de 1,5 bi contraídas em anos anteriores;

Chega-se a um défice a rondar os 8,8 bi, cerca de 5,3% do PIB. Faltam porém outros ajustamentos em várias rubricas para se apurar o valor em Contabilidade Nacional, o relevante para aferição do cumprimento do défice. Tudo dependerá do netting daqueles ajustamentos, uns positivos, outros negativos. Por exemplo, nos juros, é muito provável que o valor a considerar baixe cerca de 500 milhões, decorrente da sua mensualização e da consolidação entre as Administrações Públicas. Basta que o ajustamento global líquido seja positivo por aquele montante, para que se atinja o objectivo dos 5%. O que pode ser facilitado, se o Gaspar errar outra previsão e o PIB descer menos de 3%.

Independentemente de tal se verificar, a descida real do défice será sempre superior a 4 bi (estou a considerar em 2011 um défice de 13,5 bi, sem a “maquilhagem” dos fundos de pensões da Banca), não obstante a quebra em mais de 3 bi nas receitas fiscais e contribuições sociais. Ou seja, uma redução da despesa da ordem dos 8 bi ou superior, o que faz de 2012 um ano histórico, porventura irrepetível em termos de consolidação orçamental.

Só lamento que Vítor Gaspar, o tipo que não acerta uma previsão, tenha chegado às Finanças com mais de uma década de atraso.

um ingénuo

“Qual é a pressa?”, perguntou António José Seguro aos seus camaradas socialistas que querem agendar o próximo congresso do partido antes das eleições autárquicas, entre eles Pedro Silva Pereira e Vieira da Silva. A pergunta, contudo, está mal formulada. Deveria ser: “quem está com pressa?”.

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socrates

Nem sei bem como classificar estes burocratas do Estado tutor…

Já esta notícia mais de uma vez e continuo perplexo. Senão vejamos. Uma mulher, presume-se que pobre, tem dez filhos. Não há qualquer registo de maus tratos, fala-se antes de fortes laços de família. O pai está muitas vezes ausente, mas isso julgo que não deve ser novidade em muitos lares portugueses. Mesmo assim, os serviços do Estado entenderam que a mãe é “desorganizada”, falta a consultas e a reuniões com os técnicos (como se fosse a mesma coisa) e, pecado maior, não se dirigiu ao hospital onde lhe deviam fazer uma laqueação de trompas. Ou seja, os serviços públicos acham que uma família pobre não pode ser numerosa se a mãe tiver, entre outras coisas, “problemas com documentos” e o defeito de “não ajudar os serviços em nada”. Determinam assim uma esterilização forçada, algo que julgava só ser possível na China. E como a mãe não se prestasse a tal, recorrem para o tribunal e tiram-lhe sete dos dez filhos, que entregam a orfanatos enquanto esperam por uma hipotética adopção.

Li, reli, e interroguei-me se estaria a ler mesmo uma notícia sobre o meu país, Portugal, governado, para mais e ao que dizem, por uma coligação híper-liberal. Mas parece que sim, parece que isto até se passou no concelho onde eu moro. E tudo isto já ia o século XXI na sua segunda década. 

De joelhos

Se Portugal não negociar agora, irá fazê-lo daqui a seis meses de joelhos

Artur Baptista da Silva, quadro superior da ONU

o homem que anda a falar sozinho

António José Seguro é um homem a falar sozinho. Bem pode aparecer todos os dias a dizer que o seu PS disse isto e aquilo muito acertadamente e no tempo certo, que ninguém lhe liga nenhuma: nem dentro, muito menos fora do partido. As sondagens podem até assinalar uma recuperação do PS, que, sabemo-lo todos, isso fica a dever-se à transferência de insatisfeitos e não a qualquer paixão que o novo líder possa suscitar no indígena lusitano. António José Seguro tem vários problemas para se afirmar como chefe político e putativo candidato a primeiro-ministro. Desde que andou a remoer a liderança de Sócrates com silêncios simultaneamente veneradores e censórios, até ao momento em que protagonizou uma das mais hilariantes cenas se sempre da política portuguesa – a célebre subida no elevador do Altis, na noite da derrocada socrática, como camarada solenemente preocupado e solidário na derrota, e a descida, minutos depois, como candidato à vacatura do poleiro – António José Seguro começou, imediatamente, por provocar forte azia no estomago de muitos dos seus camaradas. Depois, perante o país e já como líder do PS, Seguro tem-se limitado a proclamar vacuidades que não destoariam dos discursos dos congressos da jota a que durante anos presidiu, e a contrariar o governo naquilo que evidentemente não agrada a ninguém: nas políticas de saque fiscal. Mas, a única vez em que se lhe perguntou se faria coisa diferente do governo de Passos nessa matéria, concretamente, se baixaria os impostos sobre o rendimento, limitou-se a dizer que nada podia prometer. Ou seja, faria o mesmo, se lá chegasse. Contudo, dificilmente lá chegará, não só porque dentro do PS há muito quem não o queira, mas, sobretudo, porque o governo já iniciou a campanha de propaganda para o ciclo eleitoral que brevemente começará com as autárquicas, e que terá no regresso aos mercados o seu ponto mais forte. Assim, ao contrário do que seria previsível até há pouco tempo, não bastará a insatisfação popular com as políticas de austeridade para alçar de novo o PS ao governo. Será mesmo necessário um novo líder e outro discurso. Certamente, haverá no PS quem já esteja a cuidar disso.

“Acumulação de funções no sector da saúde”, texto de 2007

Acumulação de funções no sector da saúde“, texto de 2007, sobre um tema sempre atual.

O desespero de António José Seguro

 É difícil imaginar um exercício de maior mistificação do que o protagonizado por Seguro na conferência de imprensa de reacção à reunião do eurogrupo.

O PS anda há mais de um ano a pedir um alívio da austeridade (isto é, mais despesa pública) que seria possível com “mais tempo” (para a consolidação orçamental) e “mais dinheiro” (o que obrigaria a um novo resgate).

Vem agora dizer que teve sempre razão. É falso.

Primeiro, porque o “mais dinheiro” que vem aí não é verdadeiramente mais dinheiro: é apenas o efeito da evolução da taxa de câmbio entre o euro (em que recebemos o dinheiro) e o dólar (em que o FMI concede os seus empréstimos). Ninguém pediu mais dinheiro e qualquer dinheiro a mais que venha é sempre dívida (com os seus juros futuros), algo que o líder do PS parece esquecer.

Depois, porque não há “mais tempo” no sentido que ele lhe dá, isto é, não haverá mais tempo para realizar a consolidação orçamental. O que significa que continuará a ser difícil cortar na despesa pública para atingir as metas acordadas com a troika, mas falar de redução dos gastos do Estado é algo de que o PS foge como o diabo da cruz.

O que há é uma coisa diferente: os empréstimos europeus da troika poderão vir a ser devolvidos mais tarde, mas isso não se reflecte nos juros nem altera o essencial: como Portugal não está a amortizar as suas dívidas, mas sim a trocar dívidas antigas por dívidas novas, a mudança das maturidades alivia os prazos em que, depois do regresso aos mercados, será necessário contrair dívida nova, mas tem pouco efeito sobre aquilo que pesa no orçamento, isto é, o serviço da dívida (o gráfico mostra a dívida que tem de ser renovada nos próximos anos).

Image

Seguro está pois apenas a jogar com a impressão que muitos portugueses têm de que estamos a pagar as dívidas (não estamos) e com a ignorância de certos comentadores que não são capazes de explicar as particularidades do funcionamento das dívidas soberanas.

A verdade é que hoje a vitória é de Vítor Gaspar, não de António José Seguro. Dupla vitória. Ler mais »

o “liberalismo” radical e revolucionário de hans-hermann hoppe

N’ O Insurgente.

Cultura

A cultura socializante e de infantilização do cidadão está, como é bem sabido, demasiada entranhada na sociedade. Da ministra do cheque-na-hora aos «empresários-sempre-de-mão-estendida-na-pedincha».  Porque ambas as partes dependem uma da outra. E da distribuição do que não é deles. À custa do contribuinte passivo, obviamente.

Veja-se qualquer notícia sobre os recentes estragos em culturas agrícolas provocados pelo mau tempo deste fim-de-semana. Ele é «Proder», ele é «bonificado», ele é «ajudas».

Mas nem uma única vez surge a palavra que seria mais natural face a actividades que implicam  risco: SEGURO

Na mesma

A 19 de Maio de 20111, o actual primeiro-ministro Passos Coelho dizia, e bem, o seguinte:

 

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«Temos de garantir que o sistema financeiro está disponível para financiar a economia e não o Estado. O Estado deve sobretudo na área económica, fixar as regras, garantir a concorrência e a lealdade entre os competidores e verificar se verdadeiramente os preços regulados estão a proteger interesses internos ou se estão a favorecer o crescimento da Economia”, afirmou o responsável.

Na mesma ocasião, Passos Coelho alertou ainda para o facto de não ser “claro que o Estado tenha esta independência, porque o Estado é ao mesmo tempo árbitro e jogador.”

E acrescenta: “O Estado abusa de mais do peso que tem no mercado. Vicia o mercado. Não põe a sociedade portuguesa a crescer com lealdade e com concorrência”».

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Nas últimas semanas, o mesmo Passos Coelho nacionalizou o BANIF e aprovou a criação de um novo banco estatal, para «fomento» da economia. . ..

Impressões

House rules

Ser ouvido sem ser citado. Quem poderá ter medo de ser citado?

Escolher o médico

É só para quem pode. Não é um direito constitucional.

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um governo de taxistas

Mais uma, do governo mais «liberal» de sempre. Vergonha!

se não pode prometer, por que é que criticou?

António José Seguro, o regente interino do Partido Socialista, andou nos últimos meses a queixar-se – com razão, mas sem convicção – dos sucessivos aumentos de impostos que o governo de Passos Coelho impôs ao país. Agora, quando lhe perguntam se um governo chefiado por si reverterá essa política que ele tanto criticou, a resposta, lacónica, foi que não está «em condições de prometer isso aos portugueses». Francamente: por quanto tempo mais o PS pretende continuar a torturar-nos com esta liderança acéfala?

Como estão as contas públicas?

DespDéficeEstão seguramente péssimas, que o défice continua colossal. E este recente objectivo que o governo se auto-impôs em cortar 4 bi na despesa de 2014 (ou já em 2013 se os juízes do TC voltarem a decidir em causa própria) peca por brando. Com o défice previsto para 2013 (se o Orçamento se cumprir) a rondar os 7,5 bi e a necessidade de reduzir o volume da dívida pública que no final do ano ultrapassará largamente os 120% do PIB, o objectivo para os cortes estruturais deveria ser o triplo. Curiosamente (ou talvez não) o limite máximo dos cortes sugeridos pelo FMI no seu tão diabolizado Relatório ronda os 12 bi.

Mas se as contas ainda estão más, a tendência é nitidamente virtuosa. Nunca nenhum governo fez tanto em tão pouco tempo e pela via mais saudável e estruturante, a redução da despesa. Em menos de 2 anos, operou uma redução de 15,3 bi na despesa primária, metade dos 30.000 milhões que me parecem ser o objectivo de médio prazo que o governo deveria ter formulado no dia da sua tomada de posse.

Ah e tal, mas essa redução deve-se ao corte dos subsídios na função pública! – tal é a réplica asinina e ignorante quando se fala no relativo sucesso no corte da despesa (digo relativo, porque muitos cortes não são estruturantes). Acontece que o corte dos subsídios em pouco ultrapassou os 2 bi, menos de 20% do corte total já realizado, que foi transversal, atingindo todas as rubricas da despesa. Mas deve referir-se, já agora, que o móbil do corte dos subsídios foi precisamente a redução da despesa…

É curioso que quando a imprensa e comentadores do regime repetem até à náusea os erros das previsões do Gaspar, procuram transmitir a ideia de uma completa derrapagem orçamental, nunca se apontando os números do défice nem que ele baixou em 2012, não obstante a queda das receitas fiscais. A tal ponto, que se vêem nas redes sociais responsáveis políticos a denotarem uma total ignorância (ou má fé?) quanto a números e a total convicção de que o défice subiu. Na realidade, em 2012 o défice terá baixado cerca de 4 bi. (note-se que os valores subjacentes ao gráfico acima apresentam os “défices reais” sem a recorrente maquilhagem contabilística das receitas extraordinárias, designadamente a “nacionalização” de fundos de pensões ocorridas em 2003, 2004, 2010 e 2011 e a projectada receita de 1,2 bi em 2012 com a concessão da ANA).

Mas o problema de fundo não estará tanto na dimensão dos cortes, que agitam sobretudo os interesses instalados, que têm sempre os media disponíveis para lhes amplificarem os protestos. A questão verdadeiramente estruturante está na Constituição que temos e respectivos “guardiões” do TC, as novas “forças de bloqueio” que inviabilizam qualquer saída da crise. A subida da despesa prevista para este ano, fundamentalmente pela reposição de um dos subsídios, já é o resultado desse “impasse constitucional”. Passos Coelho terá antecipado esse risco, mas amedrontou-se com a histeria mediática que então provocou. 

sondagem

De que falamos quando falamos em consenso?

Adolfo Mesquita Nunes, no i.

“Os comentadores que apoiaram as políticas que nos arruinaram, as associações que beneficiaram das políticas que nos arruinaram, as elites que conviveram bem com as políticas que nos arruinaram e os agentes sociais que fizeram parte das políticas que nos arruinaram são vozes que devemos sempre respeitar, mas às quais não temos de pedir autorização para governar.”

Pode um governo organizar eventos semi-públicos?

O João Luís Pinto coloca esta questão:

é legítimo ao governo impor em eventos público organizados por si regras de limitação à liberdade de expressão e condicionadoras da possibilidade de cada um dos presentes relatar como bem entender o que lá se passou?

Do ponto de vista lógico, a grande dificuldade desta pergunta está na definição de “evento público”. Se a definição de evento público  é “evento aberto a todos e em que todos podem relatar o que se passou sem limitações” então a resposta à pergunta é “não” por uma questão de lógica. Se há restrições então o evento não é público por definição. Mas é curioso que várias pessoas usaram esta falácia “se o evento é público logo devia ser público” para criticar a conferência sobre a reforma do Estado. Na verdade o evento foi propositadamente concebido para ser semi-público, gostem ou não.

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Para evitar esta falácia a questão deve ser colocada de outra forma: é legítimo que o governo organize os eventos que entender, desde que a participação e os contributos sejam voluntários? A resposta a esta pergunta parece-me fácil. Se é legítimo que o Conselho de Ministro seja à porta fechada (restrição absoluta  imprensa) e se é legítimo que o governo realize conferências de imprensa totalmente abertas (restrição mínima à imprensa), também é legítimo que o governo organize eventos com restrições intermédias. Mas quem acha que não é legítimo devia tentar explicar porque é que os extremos do espectro de restrições são legítimos mas a zona intermédia do espectro não é. Note-se que a questão da legitimidade é independente de qualquer outra que possa ser colocada sobre a conferência da reforma do Estado, e seria útil para o debate de ideias que não se baralhassem as questões.

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Suponho que o João Luís Pinto não contesta o direito de uma instituição privada de organizar os eventos que entender com as regras que entender. A liberdade de expressão pode ser limitada se as partes envolvidas concordarem com um pacto de silêncio, mesmo em eventos semi-públicos de grande dimensão.  Se assim é, porque é que o governo não o pode fazer? Se é por uma questão de transparência da actividade governativa, então essa transparência não se deve limitar a conferências sobre a reforma do Estado. O próprio Conselho de Ministros deve ser transmitido pela TV. Claro que se pode argumentar que isso transformaria o Conselho de Ministros num circo com os ministros a falarem para parecerem bem ao eleitorado. Mas esse seria um argumento utilitarista que não responde à questão da legitimidade. E se se reconhece que há argumentos utilitaristas para que o Conselho de Ministros não seja transparente, também há argumentos utilitaristas para que outros eventos não sejam transparentes.

Ninguém nos explica

Luís M Jorge escreve o seguinte:

Vem isto a propósito dos 4 mil milhões de euros que o Governo, e os papagaios que o apoiam, querem cortar “em permanência” ao orçamento de estado. Ninguém sabe de onde vem este número. Ninguém explica como lá chegou.

Nem é preciso, porque a eficácia do número não precisa de uma justificação. Não é um valor sério, nem assenta em qualquer espécie de realidade.
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Luís M Jorge não sabe uma coisa. Não sabe porque é que é necessário cortar permanentemente 4 mil milhões de euros. Ainda assim nota-se que não tentou compreender. Nota-se também que essa ignorância não o tornou mais humilde nem o coibiu de insultar quem eventualmente possa não concordar com ele. E no entanto é tão fácil perceber porque é que Portugal tem que cortar 4 mil milhões de euros.  Mas isso envolve alguma matemática elementar. Não sei até que ponto a opinião pública está preparada para isso. Luís M Jorge não é uma excepção. De entre as pessoas supostamente informadas,  já vi várias colocar a mesma questão com o ar de quem esteve em coma nos últimos 5 anos. Temos que cortar 4 mil milhões de euros. Ninguém adivinha porquê? Vá lá …

e agora, tozé?

Com que cara fica o PS, que tanta fé depositou no novo messias do socialismo europeu, o sr. Hollande, ao ouvi-lo elogiar Pedro Passos Coelho e o governo português, dizendo que os “difíceis esforços que Portugal está a fazer estão a dar frutos” e que tem “confiança no regresso de Portugal aos mercados”? Então o governo português não está a levar o país para o abismo? François Hollande não concorda com isso? E o PS concorda com o Messias ou não concorda com o Messias? É certo que Passos também foi particularmente amável com o chefe de estado francês ao exigir que a Alemanha continue a pagar a agricultura gaulesa, mas, caramba, isso não pode explicar tudo!

uma aberração

O semipresidencialismo português é uma verdadeira aberração. Consagrado, na forma actual, pela revisão constitucional de 82, ele constituiu, desde então, a primeira legalização do aborto – do aborto político, mais propriamente – em Portugal. Na sua versão primitiva saída da revolução, a Constituição consagrara um modelo de governo que fora decalcado da Carta Constitucional de 1826: um chefe de estado com um forte poder moderador, de quem, na prática, o governo e a sua actuação legislativa dependiam, tanto ou mais do que do parlamento. Com a revisão de 82 e o Conselho da Revolução regressado à caserna, o chefe de estado ficou uma espécie de ectoplasma fantasmagórico a quem são permitidas aparições esporádicas quando está em causa «o regular funcionamento das instituições». Ou seja, de monarca constitucional, o chefe de estado transformou-se numa versão eleita do Almirante Américo Thomaz. Após a morte de Salazar, claro. O semipresidencialismo português, desde então, aprisiona em Belém figuras decorativas que apenas podem ameaçar o governo de demissão, ameaça que habitualmente consumam no segundo mandato, para relaxar os nervos e digerir as humilhações que precisaram de engolir para conseguirem a reeleição. Com o único poder de que praticamente dispõe, o Presidente da República Portuguesa transforma-se, ao demitir o governo, num player político activo. porque esse acto envolve um juízo de máxima censura política sobre quem governa (pôr em perigo «o regular funcionamento das instituições»…), o que o coloca ao lado da oposição, a quem, na prática, entrega o poder e o país. Por isso, e só por isso, é que Cavaco Silva não dissolveu ainda a Assembleia da República, como aspira e profetiza o Professor Freitas do Amaral, o mais recente astrólogo e quiromante da política portuguesa. Por isso, e só por isso, é que Jorge Sampaio engoliu Santana Lopes e esperou que o PS mudasse de liderança antes de provocar eleições antecipadas. E, por tudo isto, porque tanta perigosa inutilidade concentrada em Belém faz mal à saúde do regime, torna-se necessário que a CRP determine, de vez, qual a verdadeira matriz do nosso sistema de governo: ou presidencial ou parlamentar. Por mim, não duvido que apenas esta última nos servirá. Mas quem quiser um caudilho salvador da pátria, um Monti graduado em general de cinco estrelas, sempre poderá ficar com a primeira.

ler é aprender

Ler o Blasfémiasaprender alguma coisa…

Eficácia

O PR promulgou a Lei que determina a extinção agregação de freguesias, acompanhada de um recado ao parlamento que a aprovara. Se o PR tivesse esperado umas horas antes de enviar o recado, teria tido tempo para verificar – lendo a edição de hoje do diário da república – que o Governo tratara já de criar (a 3 de Janeiro) uma equipa (que dá pelo pitoresco nome de EARATA) para tratar do assunto. 

Do Boletim de Inverno do Banco de Portugal

Do Boletim de Inverno do Banco de Portugal

Os cépticos podem verificar: os resultados de PISA são mesmo os mais recentes.

Leitura recomendada

amordaçados?

A propósito da ADSE

Ler o João Gonçalves: «Para a saúde, o PS, numa só manhã, conseguiu dizer tudo e o seu contrário pela voz de prolixos “porta-vozes” que, pelos vistos, não se entendem sobre a coisa. A coisa é a ADSE que alguns “especialistas” querem extinguir a coberto de uma alegada “distorção” social e económica. A “direita” tem também alguma dificuldade em perceber que é o SNS que deve aproximar-se do sistema ADSE e não contrário. (…) Quem beneficia da ADSE não o faz de borla. “Desconta” mensalmente para o efeito, esteja no activo ou esteja aposentado. Para além disso, “desconta” brutalmente em IRS para, entre outras coisas (por causa do princípio da não consignação da receita), o SNS onde, quando a ele recorre, paga as respectivas “taxas moderadoras”. Feitas as contas, o repelente funcionário público – que estraga o liberalismo caseirinho das esquerdas e das direitas – “desconta” três vezes e paga, fora a ADSE, do seu bolso, o que não é comparticipado quando vela pela sua saúde. O Estado poupava mais se o SNS adoptasse um regime tipo ADSE do que mantendo o “ideológico” SNS da bandeirinha, esse sim, um poço sem fundo

A esquerda deve governar sempre

Porque assim ninguém começa  a exorbitar com quedas de governo mal vêm umas centenas de milhar de pessoas para a rua como sucedeu no passado fim de semana em Paris  e porque se podem tomar decisões que com outros protagonistas davam motivo a uma onda de indignação: a França, do senhor Hollande graças a Deus, desencadeou uma operação militar no Mali. Até agora ninguém falou de reacendimentos nem de neo-colonialismo. Os mortos deviam ser todos orfãos e e celibatários pq não aparece um único familiar a chorá-los nas televisões, ninguém pisa o retrato de Hollande com aquele chanatos telegénicos dos tempos do Iraque. Enfim é um sossego. Donde só posso concluir que em matéria de legitimidade da rua e combate à Al Qaeda esperemos ser governados agora e sempre pela esquerda.

Assim se fala em bom português

PS quer “acabar com a ADSE para acabar com a injustiça - Isto é que é um título. Se a proposta viesse do PSD o título seria: “Governo quer destruir ADSE” ou “Constituição permite acabar com ADSE?”. Ou ainda “Depois dos subsídios, funcionários públicos perdem ADSE ” Numa versão mais politizada haveria também “ADSE provoca nova crise no Governo. Porta discorda de Passos” ou “Cavaco contra fim da ADSE”. Quiçá recuperado da sua gripe Mário Soares escreveria “Nem Salazar se atreveu a tocar na ADSE”.  Como o PS diz aquelas coisas que os jornalistas adoram a extinção da ADSE torna-se num combate à injustiça.

Escolhas

António José Seguro fez uma óptima escolha para a câmara de Cascais: João Cordeiro, da ANF. João Cordeiro não ganha pela mesma razão que os humanos não voam: não temos esqueleto para tal. Corporativo e arrogante até à medula só por desastre da outra parte é que Cordeiro ganhará. E Seguro bem precisa que a outra parte ganhe pois o duo Carreiras-Capucho são do que mais eficaz existe a fazer oposição a Passos Coelho.

Hipocrisias

Vivemos tempos de hipocrisia: discutir a sustentabilidade do estado social é querer destruir o estado social; o país endividou-se e agora culpa pela crise quem lhe empresta dinheiro. Não se pode dizer o que se pensa – veja-se o caso de Isabel Jonet - tem de se falar uma espécie de língua de pau pq caso contrário os hipócritas irritam-se. Os hipócritas como não pode deixar de ser são furiosos moralistas: no dia do seu aniversário uma deputada foi apanhada a conduzir alcoolizada e teve a sua cara espalhada pelos jornais; numa festa qualquer umas pessoas fazem um comboio e o seu sorriso torna-se uma ofensa ao país em crise pq é suposto vivermos em ambiente de velório; uma miúda diz que gostava de ter uma mala chanel e causa um escândalo…  Os hipócritas não querem saber do que as pessoas fazem, pensam ou defendem. Os hipócritas vivem de aparências.

Impressões

Documento FMI

Alguma coisa vai ter que ser feita. A demagogia pode enganar as pessoas mas não elimina a realidade.

Demissões

Quem está é que trata da casa. Não quem pensa que devia estar.

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a «ética» de rothbard

N’ O Insurgente.

O que está em causa é “o direito à criança”

Apesar da distracção da comunicação social é grande a mobilização em França contra a proposta governamental sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo e sobretudo contra as alterações à filiação que tal pode implicar. Na polémica e na discussão que estes assuntos têm gerado em França há um documento que vale a pena ler. Trata-se do testemunho de  Jean-Dominique Bunel que foi criado por um casal de duas mulheres. Advogado, 66 anos, é conhecido em França pelo seu trabalho em várias associações de carácter humanitário. «Ce n’est donc pas le tabou de l’homosexualité qui m’a fait souffrir, mais l’homoparentalité. Les homosexuels doivent naturellement être accueillis avec fraternité ; ils enrichissent l’humanité et s’il faut, bien entendu, leur accorder le plus possible les mêmes droits qu’aux hétérosexuels, cette égalité ne peut évidemment pas s’appliquer à un “droit à l’enfant” qui n’existe nulle part et qui ne figure dans aucun texte.» Voilà bien ce qui ne passe pas : l’homoparentalité. De quoi a-t-il souffert ?  «De l’indifférence des adultes aux souffrances intimes des enfants, à commencer par les miennes. Dans un monde où leurs droits sont chaque jour évoqués, en réalité, c’est toujours ceux des adultes qui prévalent. J’ai également souffert du manque d’un père, une présence quotidienne, un caractère et un comportement proprement masculins, une altérité par rapport à ma mère et à sa compagne. J’en ai eu conscience très tôt. J’ai vécu cette absence de père comme une amputation.» «Je vous offre un témoignage, il n’a pas valeur de sondage» Ler mais »

Uma frente é que dava jeito

«Nós não propomos um governo só de comunistas.» declara Jerónimo de Sousa numa entrevista ao I. Com a expressão eleitoral do PCP um governo de comunistas é democraticamente impossível. Mas na verdade é isso que Jerónimo defende.  Com “este PS” também não pode ser. E quanto ao BE cada um vai segundo Jerónimo de Sousa a “caminhar na sua própria bicicleta”. Logo quem sobra?  Os patriotas,  democratas,  homens e mulheres de esquerda preocupados com o país, que convirjam connosco na procura dessa alternativa.  Ou seja o velho frentismo fantoche que o PCP usou nos idos de 75 com o resultado sabido.  O que é grave não é a proposta em si – cada um deve ser livre de propor o que quer. O que é grave é este tipo de declarações nunca seja escrutinado e que depois de fazer este tipo de declarações o PCP nunca seja confrontado com a sua apologia das ditaduras ou que no 1º de Maio fale de opressão e direitos em Portugal e depois alguns dos seus dirigentes integrem delegações oficiais em Cuba.

privatizem, já!*

O Brasil é conhecido pelas suas péssimas instalações prisionais, onde a sobrelotação, as miseráveis condições de alojamento dos presos e a insegurança são características dominantes do sistema. Em resultado disso, foi criado, há alguns anos, no Estado de São Paulo, o primeiro sindicato de presos – o PCC (Primeiro Comando da Capital) – que posteriormente se transformaria num verdadeiro sindicato do crime, que organizou a maior rebelião prisional do país, em 2006, e pôs a cidade de São Paulo a ferro e fogo, com actos de violência inauditos.

Perante este inequívoco fracasso das autoridades públicas, o que resolveram estas fazer? O óbvio: começaram a privatizar o sistema prisional brasileiro, tendo começado pelo Estado de Minas Gerais, para avançarem posteriormente para outros estados.

Assim, as novas prisões privadas são propriedade de empresas privadas que as constroem e administram, e que recebem os presos com base em contratos celebrados com os governos dos estados. Nesses contratos ficam definidas as condições de exploração do negócio, determinando-se a capacidade máxima do presídio, as condições de alojamento dos presos e as sanções pecuniárias aplicadas caso falhem as condições estipuladas, como, por exemplo, as exigências de higiene, o fornecimento de água e de luz por períodos prolongados de tempo, a sobrelotação das celas, sendo que, em contrapartida, o poder público não poderá enviar mais de 10% do número limite de presos fixado no contrato. Já a segurança das prisões privadas será necessariamente muito superior à das públicas: em caso de quatro fugas ou rebeliões bem sucedidas ocorridas num período de dois anos, a empresa será multada em 16 milhões de reais.

Fica aqui um bom exemplo para Portugal, onde não se pode privatizar a RTP porque o estado não pode deixar de ter um canal noticioso próprio…

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Plagiado do título do excelente livro do Rodrigo Constantino, cuja leitura recomendo vivamente.

Decadência civilizacional

A formulação deste texto onde o cão é tratado pelo nome personificação a que a criança não teve direito: «Petição Contra o Abate do Pitbull “Zico” e de todos os outros “Zicos”! Esta petição tem como objectivo lutar contra o abate do cão “Zico” que atacou uma criança em Beja e de todos os outros “Zicos” espalhados pelo país…  Um cão que nunca fez mal durante 8 anos e atacou é porque teve algum motivo. O abate não é solução! Nestes casos há que investigar o que causou a reacção do cão (foi provocado/não está a ser bem tratado/etc) e pode optar-se pela reabilitação/treino do cão!  Se não se abatem pessoas por cometerem erros, por roubarem, por matarem…então também não o façam com os animais! Eles também merecem uma segunda oportunidade!  POR CADA VIDA PERDIDA DEVIDO AO ATAQUE DE UM ANIMAL, VÁRIAS VIDAS SÃO SALVAS POR ANIMAIS!!!»

As neo-tricoteuses

Andam por ai. De repente sem mais atiram-se sobre uma vítima. Ontem foi uma rapariga que queria uma mala Chanel. Claro que se se for do clube dos jacobinos ou se se lhes tiver caído em graça se pode adorar sapatos Manolo Blahnik – aqueles que fazem a perdição das protagonistas do “Sexo e a Cidade” mas as tricoteuses adoram ou toleram  Sarah Jessica Parker  pq ela ajuda a recolher dinheiro para as campanhas do Obama e derrotar a América estupidíssima e profundissima dos republicanos  - ou até fazer publicidade à Vuitton se se fizerem umas declarações muito politicamente correctas. Como a menina do video não calhou em graça às tricoteuses estas atiraram-se ao teclado dos seus gadgets com a mesma fúria com que as tricoteuses manejavam as agulhas na sala do Tribunal Revolucionário durante o Terror. Hoje ou amanhã a vítima será outra.

tem toda a razão

O secretário-geral do PS, António José Seguro, ao dizer que o governo se meteu numa “trapalhada”. Pois meteu. Meteu-se na trapalhada de assumir o governo de um país falido e entregue ao FMI pelo governo anterior, chefiado por José Sócrates, ao tempo secretário-geral do mesmo partido de Seguro. Isto há doidos para tudo, de facto!

até tu, pedro?

“Nesta mesma noite, antes que o galo cante, três vezes me negarás” (Mateus 26:34).

A primeira já está e com referências premonitórias à Bíblia. Faltam ainda duas para enfiar o relatório, de vez, na gaveta.

Medicamentos nos Hospitais (texto de 2010)

Publicado há 3 anos, “Medicamentos nos Hospitais” é um texto que aparenta manter alguma actualidade.

 

 

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